Já faz algum tempo que venho observando a relação conflituosa entre o niilista e o fanático, e, como relacionei hoje a questão tipológica a isso, decidi escrever um pouco sobre os fatos e sobre minha interpretação a respeito deles, dando ênfase filosófica no equilíbrio tipológico proposto por Jung.
Quando observamos logo de cara, o fanático parece ser extrovertido e o niilista introvertido, já que o fanático segue cegamente à regras que vêm de fora e o niilista nega todas essas regras para seguir somente a si mesmo e seus instintos, frequentemente, destrutivos.
Mas essa interpretação é equivocada, pois vê as coisas de um ponto de vista exclusivamente superficial negligenciando o que há de mais profundo.
É enorme a freqüência com a qual ouvimos os fanáticos e o niilistas citarem o oposto e demonstrarem, assim que não conhecem o caminho do meio. Mas se pararmos pra pensar, se um niilista é introvertido, porque é que ele sente tanta repulsa do tipo extrovertido a ponto de desprezar o fanático? E vice versa?
Talvez se pense que se trata de uma repulsa normal dos tipos, mas nossa psiquê freqüentemente nos atrai aos nosso opostos para gerar equilíbrio psíquico, de forma que essa aversão parece ter outra causa, que não necessariamente exclui a aversão tipológica.
Avaliando historicamente veremos que o fanático tende a dizer que é melhor seguir sua religião(por exemplo) do que estar por aí de bar em bar, se metendo em confusão sem respeito por ninguém, enquanto que o niilista diz que é melhor ser livre e ser você mesmo do que viver preso a um dogma irracional e castrador.
Pra mim isso só demonstra uma coisa: o niilista é um neurótico que, no passado, foi preso ao fanatismo de tal forma que seu inconsciente precisou de muita força para libertá-lo, e essa liberdade se tornou promiscuidade, já que o fanatismo anterior agora causa aversão, eliminando o compromisso coletivo extrovertido.
Por outro lado, o fanático também estava num conflito para se libertar dessa prisão interna que era o niilismo prévio, que destrói o mundo. Ao perceber o dano que ele causava, o inconsciente, com muito esforço, removeu o niilista dessa introversão imoral e colocou nele o oposto, que é uma moralidade fanática e um compromisso com o objeto já tão destratado. Depois disso o fanático passa a ter profundo desprezo pelo niilismo e, conseqüentemente, pela introversão.
Aí há uma inversão de papéis, e os dois continuam unilaterais, só que agora conhecendo o outro oposto e com a função inferior acima da superior, o que gera uma neurose.
Para mim a solução desse problema é mesmo o caminho do meio, que é muito simples.
Através da introversão pura se chega ao niilismo, enquanto que através da extroversão pura se chega ao fanatismo, mas extroversão e introversão não se excluem.
Acho que, ao menos nesse caso, o que causou a mudança(ou progresso) foi o tormento de morrer afogado. Só sai do inferno quem entende que o sofrimento está ali para ajudar. É como quando você mete a mão no fogo e sente a dor da queimadura. Sem a dor não haveria o impulso de evitar a proximidade com o fogo.
Tanto o niilista quanto o fanático nunca encontram equilíbrio, mas sempre estão em conflito com seu oposto. É por isso que hoje há o dawkins culpando os religiosos pelo mal do mundo e há religiosos culpando a falta de fé pelo mal do mundo: precisam que o Diabo seja o inimigo a ser combatido porque o equilíbrio não reside dentro deles.
Viver em conflito é viver em tormento, e esse tormento tem a função de curar assim como uma dor tem a função de mostrar que estamos feridos e precisamos cuidar do machucado.
Assim, é sempre bom que fiquemos atentos aos tormentos da alma, pois eles nos demonstram nossos erros da mesma forma que demonstram o acerto com a felicidade…
Introverter representa a autopreservação, e extroverter representa a preservação dos outros: e um não é mais importante do que o outro.